segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Um trecho de Albert Pike, a propósito de Maçonaria, Crise e Sociedade




    Um leitor deste blogue, em comentário ao texto Regras Gerais dos Maçons de 1723 - XXX, expressou a sua insatisfação pelo facto de, em tempos de crise em Portugal e na Europa, não ver aqui comentário à mesma. Seguiu-se uma troca de comentários em que penso ter explicado a posição dos maçons que aqui escrevem sobre o assunto. Mas, ao documentar-me sobre as respostas a dar, recordei uma passagem de Morals and Dogma, de Albert Pike, que julgo interessante para se ver como a Maçonaria já desde há muito tempo que sabe muito bem como cada um dos maçons deve intervir na Sociedade. Os teóricos da conspiração costumam muito citar Pike e a sua obra Morals and Dogma para elocubrarem sobre o pretenso projeto da Maçonaria de dominar a Humanidade e criar a Nova Ordem Mundial (seja lá o que isso for).
   Mas não se dão ao cuidado de ler Pike e Morals and Dogma... Este excerto que aqui transcrevo ilustra bem, creio, a postura dos maçons perante a Sociedade. E, quanto à presente Crise, destaquei e sublinhei uma passagem. Para bom entendedor... Por muito negro que seja o momento, a tormenta há de passar e este Povo há de ressurgir mais forte e mais capaz de superar as adversidades! Que assim seja! Eis o excerto: Mas o grande mandamento da Maçonaria é:
“Dou-vos um novo mandamento: Amareis uns aos outros! Aquele que disser estar na luz e odeia seu irmão, ainda estará na escuridão”.
   Estas são as obrigações morais de um Maçom. Porém, também será obrigação da Maçonaria ajudar a elevar o nível moral e intelectual da sociedade; cunhando conhecimento, trazendo ideias à circulação e fazendo crescer a mente da juventude; e colocando a raça humana em harmonia com seu destino, gradualmente, mediante ensinamento de axiomas e pela promulgação de leis positivas.
   É desse dever e trabalho que o Iniciado é aprendiz. Não deve imaginar que não pode afetar nada, e com isso desiludir-se e permanecer inerte. Está nisso, assim como está na vida diária de alguém.      Muitas grandes obras são executadas nas pequenas lutas da vida.
   Existe, nos dizem, bravura determinada porém invisível, que se defende passo a passo, na escuridão, contra a invasão fatal da necessidade e da baixeza. Existem triunfos nobres e misteriosos, que os olhos não vêem, que não têm recompensas renomadas e que não recebem a saudação de fanfarras de trompetes.
   A vida, o infortúnio, o isolamento, o abandono, a pobreza, são campos de batalha que têm seus heróis – heróis obscuros, mas algumas vezes maiores do que aqueles que ficam famosos. O Maçom deve lutar da mesma maneira e com a mesma bravura contra aquelas invasões da necessidade e da baixeza que atingem as nações assim como às pessoas. O Maçom deve enfrentá-las também, passo a passo, mesmo no escuro, e protestar contra o erro e a insensatez; contra a usurpação e contra a invasão dessa hidra, a Tirania.
   Não há eloquência mais soberana do que a verdade indignada. É mais difícil para um povo manter do que conseguir sua liberdade. Sempre são necessários os Protestos da Verdade. O direito deve continuamente protestar contra o Facto. Existe, verdadeiramente, Eternidade no Direito. O Maçom deve ser um sacerdote e um guerreiro desse Direito. Se o seu país tiver roubadas as suas liberdades, não deve desesperar. O protesto do Direito contra o Facto persiste para sempre. O roubo de um povo nunca prescreve.
   O reclamo de seus direitos nunca é barrado. Varsóvia não pode mais ser tártara do que Veneza teutónica. Um povo pode resistir à usurpação militar, Estados subjugados ajoelham-se a Estados e usam a canga sob a pressão da necessidade; mas, quando a necessidade desaparece e se o povo estiver preparado para a liberdade, o país submerso virá à tona e reaparecerá e a Tirania será julgada pela História por ter assassinado suas vítimas. Seja lá o que ocorrer, devemos ter Fé na Justiça e na Sabedoria soberana de Deus, Esperança no Futuro e benevolência Afetuosa para com os que erram. Deus torna Sua vontade visível às pessoas através de acontecimentos; um texto obscuro, escrito numa linguagem misteriosa.
   As pessoas traduzem-na imediata, rápida e incorretamente, com muitos erros, omissões e interpretações falhas. A nossa visão do arco do grande círculo é tão curta! Poucas mentes compreendem o idioma Divino.
    Os mais sagazes, os mais calmos, os mais profundos, decifram hieróglifos lentamente; e, quando voltam com seu texto, talvez a necessidade já se tenha ido há tempo; já existem vinte traduções – a maioria é incorreta e, é claro, são as mais aceites e populares. De cada tradução nasce um partido; de cada interpretação falha, uma fação. Cada partido acredita ou finge que detém o único texto verdadeiro; e cada fação acredita ou finge que apenas ela possui a Luz.
   Além disso, fações são gente cega que aponta apenas para frente, e erros são projéteis excelentes, atingindo habilmente e com toda a violência que salta de argumentos falsos, onde quer que um desejo de lógica naqueles que defendem o direito os faça vulneráveis como uma falha numa couraça. Portanto, muitas vezes seremos derrotados ao combater o erro diante do povo. Antaeus resistiu a Hércules por longo tempo, e as cabeças da Hidra cresceram tão rapidamente quanto foram cortadas. É um absurdo dizer-se que o Erro, ferido, agoniza em dor e morre no meio dos seus adoradores. A Verdade conquista lentamente.
   Há uma vitalidade surpreendente no Erro. A Verdade, realmente, na maioria das vezes, atira por sobre as cabeças das massas; ou, se um erro estiver prostrado por um momento, levantar-se-á num instante, vigoroso como nunca. Não morrerá quando o cérebro tiver sido arrancado; e os erros mais estúpidos e irracionais serão os mais duradouros. A Crise há de ser superada.
    A  Sociedade é e será o que cada um de nós e todos em conjunto delas fizermos. Que cada um aprimore a sua Sabedoria, melhore a sua Força e em tudo o que faça ponha Beleza para que do melhor de nós resulte uma Sociedade melhor, antes, durante e depois de qualquer crise!

Rui Bandeira

  Original AQUI

domingo, 30 de dezembro de 2012

Mito e Religião na Grécia


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Mito e Religião na Grécia Antiga – Jean-Pierre Vernant

   Diferente dos outros livros sobre os quais escrevi aqui, este não se preocupa em contar um ou vários mitos e sim em discutir o significado destes mitos. É um pequeno ensaio que discute o significado e significante dos mitos e da religião entre os gregos.
   Jean-Pierre Vernant era um historiador e antropólogo francês, especialista em Grécia Antiga e mitologia grega. Portanto é o livro de um historiador, e por isso a abordagem é histórica e historiográfica. Mas não é recheado de terminologias específicas da área a ponto de deixar texto incompreensível aos leitores leigos.
Religião Cívica
   Vernant discorre sobre a tendência histórica que separou os mitos retratados em poemas e no teatro do seu significado religioso. Sobre as mudanças ocorridas e as permanências verificadas durante os séculos, da época Micênica à época Clássica. Da re-utilização dos templos, que mudam a estrutura e interagem com o meio e a época.
   Segundo Vernant a religião na Grécia se fundamenta na tradição, passa de geração a geração, nas famílias e através de poetas e contadores de histórias. Ela não tira as pessoas de seus afazeres cotidianos e sim faz parte deles.
   A religiosidade grega está ligada aos atos cívicos, dele faz parte e do que a pessoa é, ao que ela pertence.  Não é uma religião voltada para a salvação individual, neste ou em outro mundo.
   Por não ser uma religião dogmática e sim de usos e costumes, com deuses tão complexos quanto os próprios humanos, com poderes, esferas de atuação e de culto que se entrelaçam, a ponto de não se poder ir à guerra sem pedir proteção e ajuda a Atena, a Ares e a Zeus, sem correr o risco de desagradar ou deixar de receber ajuda de algum aspecto necessário à vitória ou sobrevivência às batalhas.

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   Para mim, como leitora leiga, um dos mais interessantes aspectos apresentados desta religião cívica é o fato do sacrifício de animais ser ao mesmo tempo uma oferenda aos deuses e uma oportunidade para o consumo da carne. Os gregos só podem consumi-la através do sacrifício ritual, onde a parte devida aos deuses é devidamente queimada, e a destinada ao consumo humano é distribuída.
   Imagino que uma hecatombe constituía um verdadeiro ato de distribuição de carne entre os cidadãos, tornando-se um ato cívico e religioso que daria prestígio a quem o realizasse.

Misticismo Grego

   No final do livro há uma abordagem, que achei extremamente interessante, sobre os cultos marginais desta religião, chamado de Misticismo Grego. Cultos estes que são aceitos apesar de não fazerem parte do que se espera do cidadão ou de claramente terem sido introduzidos posteriormente à vida cívica.



   O que se pode considerar como o melhor adaptado ou aceito são os mistérios de Eleusis, que são, até certo ponto, uma festividade cívica. Mas seu sentido é estranho ao cotidiano religioso da polis. Ser ou não iniciado em Eleusis não alterava o status do cidadão grego.
    Também há o culto a Dionísio, o último deus a ser aceito entre os deuses olímpicos, o único filho de uma mortal aceito como deus. Dionísio representa o Outro, aquele que questiona a ordem existente. Seu culto, suas festas, seus delírios coletivos e rituais foram assimilados e incorporados à religião grega, mas não estão ao lado dos rituais cívicos já existentes, e sim como uma forma de complementação e aceitação da existência deste Outro e de sua excentricidade.
   Os cultos órficos são, entre estes cultos marginais, os mais estranhos à teologia fundadora da religião grega. Com seu repúdio ao consumo de carne – consumo este que é o que liga os homens aos deuses através dos sacrifícios rituais – a busca da salvação individual e sua forma doutrinária, o Orfismo opõe tantos aos mistérios, ao dionisismo quanto à religião cívica. O que não impediu que fosse aceita entre os gregos e tivesse certa influência na vida da pólis.
   Por fim, este livro de Vernant é uma leitura extremamente interessante e apresenta uma visão da religiosidade grega que instiga o leitor a ir além do mero conhecimento da existência dos deuses olímpicos, discutindo o significado que estes deuses, suas histórias, cultos e sincretismos tiveram na vida do povo grego.

Vernant, Jean Pierre – Mito e Religião na Grécia Antiga, Martins Fontes, São Paulo, 2006


Original AQUI

A Árvore e a Folha


A Árvore e a Folha – J.R.R. Tolkien
   Este é um pequeno livro dividido em duas partes: o ensaio “Sobre Histórias de Fadas” e o conto “Folha por Niggle.” Os dois estão relacionados, pelo autor, pelos símbolos da Árvore e da Folha (Tree  and Leaf é o nome original deste livro).
   Vou me restringir ao ensaio e deixar conto Folha por Niggle por conta dos leitores, que é uma história maravilhosa, uma fábula de como pode se dar um processo criativo, uma crítica social ou apenas uma bela história de entretenimento. E, por isso mesmo, difícil de ser resenhada de forma mais objetiva.

Sobre Histórias de Fadas
   Sobre Histórias de Fadas é leitura indispensável para quem quer entender sobre o fascinante mundo da fantasia e do reino das fadas. Um dos poucos trabalhos acadêmicos de J.R.R. Tolkien traduzido e publicado no Brasil.
   Parte do que é dito pressupõe o conhecimento de contos e histórias que não são muito conhecidas pelos brasileiros (como a lenda sobre a mãe de Carlos Magno), mas nada que atrapalhe o entendimento do livro e da tese do autor.
   É o livro de um filólogo e, por isso, Tolkien começa por fazer uma análise filológica da definição de Fada, Faerie e outros termos, como seria esperado de um autor que afirmou que “primeiro vem a palavra, depois a história”.
   A Faerie ou Belo Reino é um mundo onde o fantástico tem vez e não é, em si, um local bom ou mal, mas o local onde o que é fantástico para os humanos pode existir. Não é um reino de fadinhas pequenas que residem em flores, e sim de seres que habitam outro reino, outra realidade, muito próxima à nossa e tão assustadora quanto.
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   A irritação do autor com a “diminuição” do tamanho das fadas, de seres fantásticos e únicos para pequenos seres com asas de borboleta é apenas o começo de toda uma teoria acerca da “sopa cultural” que deu origem às histórias de fadas como as conhecemos hoje. E é claro, ele põe um pouco da culpa por esta “diminuição de estatura” em Shakespeare (a irritação de Tolkien com Shakespeare chega a ser folclórica..)
   Ele começa traçando um breve histórico de como os contos de fadas adquiriram esta visão contemporânea, que as relegou ao quarto das crianças e contemplando visões do que começou a ser considerado “adequado” para crianças e acabou incluindo histórias que sequer foram escritas com o intuito de serem lidas por crianças (Aventuras em Lilliput é o exemplo mais berrante desta distorção).
   Tolkien define que o encantamento que os seres da faerie exercem sobre nós é reflexo do que queremos, daquilo que os encanta no mundo real. Estes seres apenas utilizam nossos desejos e ceder ou não a eles, saber distinguir os verdadeiros desejos dos falsos é algo que cabe ao humano.
   “O Belo Reino é um lugar que existe fora do nosso mundo do qual temos vislumbres e no qual alguns humanos podem entrar em locais específicos. Dificilmente os seres de lá se interessam por nosso mundo e a maioria das histórias de ‘contos de fada’ são sobre aventuras de humanos neste reino, e não histórias sobre os seres de lá.”
   Tolkien também nos apresenta o conceito de subcriação, bem como uma interpretação de como as histórias de fadas de vários povos se misturam num grande “caldeirão de histórias”, que permitiu a inclusão de personagens históricos, como Carlos Magno, em histórias que seriam tipicamente do mundo da Faery.  E como seres do Belo Reino às vezes são incluídos em histórias que não teriam, originalmente, características que as classificariam como Histórias de Fadas e sim apenas como Fantásticas.
   Por fim, este ensaio é de fácil leitura e indispensável não apenas para quem se interessa pela obra literária de J.R.R. Tolkien, e para todos que se interessam pelos conceitos de contos de fadas, fantasia, criação e subcriação. É uma obra que tornou-se referência para diversos outros autores que se dispuseram a discorrer sobre Contos de Fadas, nos mais variados campos do conhecimento, como o psicólogo Bruno Betttelhein e o escritor Neil Gaiman.
Tolkien, J.R.R:  Sobre Histórias de Fadas – Conrad Editora do Brasil Ltda
Veja a versão original AQUI.











domingo, 5 de fevereiro de 2012

Teseu vai a Creta (Final)

 
Na mesma época em que estava “exilado”, apareceu um novo problema para Teseu, Androgeu, filho de Pasífae e Minos, rei de Creta, foi morto. A morte foi atribuída indiretamente a Egeu, a variantes sobre a morte do rapaz, uma delas diz que, invejoso das vitórias de Androgeu, Egeu o enviara para combater o Touro de Maratona, que acabou sucumbindo, outra variante diz que foram os próprios atletas que invejosos o mataram e uma terceira versão que já é política, diz que, ele teria morrido por ter ligações com os Palântidas.


Independente do motivo da morte, Minos entrou em guerra contra Atenas e teve apoio de Zeus (seu pai) que enviou uma peste ao povo ateniense. Minos concordou em se retirar desde que anualmente fosse enviados sete moças e sete moços para serem lançados no labirinto para servirem de pasto para o Minotauro.

Na terceira vez em que foi se buscar o “pasto” do Minotauro, Teseu se prontificou a ir com as outras treze vítimas, pois os atenienses já estavam se irritando com Egeu. Conta-se também que era o próprio Minos que escolhia as vítimas, e que uma vez lançados lá, caso conseguissem matar o Minotauro podiam regressar para a pátria livremente.

Em uma variação do mito, Minos querendo provar a superioridade de Teseu, lança o anel ao mar e o desafia a buscar, Teseu imediatamente mergulha e é recebido por Posídon em seu palácio que lhe devolve o anel.
À partida, Egeu entregou a Teseu dois jogos de velas, uma preta e outra branca, recomendando que, se voltasse vivo, içasse a branca, se voltasse preta, era sinal de que todos haviam morrido.



Chegando em Creta as vítimas desfilam pela cidade, Ariadne vendo Teseu, se apaixona por ele. Ariadne após receber a promessa de Teseu, que ele se casaria com ela se saisse do labirinto, resolve ajudá-lo dando a ele um novelo de lã (que conseguiu com Dédalo) para desenrolar a medida que penetrasse o labirinto. Outra versão aponta uma coroa luminosa (feita por Hefesto e mais tarde transformada em constelação) que Dioniso ofereceu a Ariadne como presente de núpcias.



Teseu, o Minotauro e a Fuga



Teseu encontra o Minotauro dormindo no labirinto e o enfrenta, em uma versão de mãos nuas e em outra com a clava de Perifetes. Para sair do labirinto usou do novelo de lã.

Após sair com os companheiros do labirinto, Teseu inutilizou as embarcações cretenses e fugiu com Ariadne. Seu navio fez escala em Naxos. Na manhã seguinte, quando Ariadne acordou, estava só, Teseu a abandonara. Há algumas versões do porque o heroi a abandonou, uma diz que Teseu estava apaixonada por outra, Egle, filha de Panopleu, e outra que Teseu foi obrigado por Dioniso que se apaixonara por ela e até mesmo a teria raptado a noite, e depois de desposá-la a levado para o Olimpo.
De Naxos o navio foi para a ilha de Delos, a fim de consagrar num templo uma estátua de Afrodite, presente dado por Ariadne.
Triste com a perda de Ariadne ou com peso na consciência por tê-la abandonado, se esqueceu de trocar as velas negras pelas brancas. Egeu, que esperava ansioso pela volta do barco, ao ver as velas negras, tirou a conclusão de que o filho havia morrido e se jogou nas ondas do mar, que recebeu seu nome.
Teseu como Rei
Após a morte de Egeu, Teseu assumiu o poder na Ática. No poder realizou o Sinecismo (reunir em uma só pólis os habitantes, incluindo os dos campos), mandou construir o Pritaneu e a Bulé (Senado). Adotou o uso da moeda, instituiu a Panatenéias, dividiu os cidadãos em três classes: eupátridas, artesãos e camponeses. Miticamente, instaurou a democracia. Consquistou Mégara e a anexou ao Estado. Reorganizou em Corinto os Jogos Ístmicos, em honra a Posídon. Na fronteira entre a Ática e o Peloponeso, mandou erigir marcos para separar o território jônico do dórico.



Sobre a expedição dos Sete Chefes e o episódio entre Teseu e as Amazonas J.S. Brandão comenta:
“Executadas essas tarefas políticas, o rei de Atenas retomou sua vida “heróica”. Como Etéocles houvesse expulso de Tebas a seu irmão Polinice, este, casando-se com Argia, filha de Adrasto, rei de Argos, conseguiu organizar sob o comando do sogro a célebre expedição dos Sete Chefes (Adrasto, Anfiarau, Capaneu, Hipómedon, Partenopeu, Tideu e Polinice). A expedição foi um desastre: somente escapou Adrasto, que se pôs sob a proteção de Teseu. Este, que já havia acolhido como exilado a Édipo, como nos mostra Sófocles no Édipo em Colono, marchou contra Tebas e, tomando à força os cadáveres de Seis Chefes, deu-lhes condigna sepultura em Elêusis.
A tradição insiste numa guerra entre os habitantes da Ática e as Amazonas, que lhes teriam invadido o país. As origens da luta diferem de um mitógrafo para outro. Segundo uns, tendo-se engajado, na expedição de Héracles contra as Amazonas, Teseu recebera, como prêmio de suas proezas, a amazona Antíope, com a qual tivera um filho, Hipólito. Segundo outros, Teseu viajara sozinho ao país dessas temíveis guerreiras e tendo convidado a bela Antíope para visitar o navio, tão logo a teve a bordo, navegou a toda a vela de volta à pátria. Para vingar o rapto de sua irmã, as Amazonas invadiram a Ática. A batalha decisiva foi travada nos sopés da Acrópole e, apesar da vantagem inicial, as guerreiras não resistiram e foram vencidas por Teseu, que acabou perdendo a esposa Antíope. Esta, por amor, lutava ao lado do marido contra as próprias irmãs.
Para comemorar a vitória de seu herói, os atenienses celebravam, na época clássica, as festas denominadas Boedrômias.
Existe ainda uma outra variante. A invasão de Atenas pelas Amazonas não se deveu ao rapto de Antíope, mas ao abandono desta por Teseu, que a repudiara, para se casar com a irmã de Ariadne, Fedra. A própria Antíope comandara a expedição e tentara, à base da força, penetrar na sala do festim, no dia mesmo do novo casamento do rei de Atenas. Como fora repelida e morta, as Amazonas se retiraram da Ática.” Mitologia Grega – Vol.3 Junito de Souza Brandão pgs. 166-167
Do amor entre Antíope e Teseu nasceu Hipólito, com Fedra teve dois filhos, Ácamas e Demofoonte.
Hipólito fez a escolha de apenas se dedicar a Ártemis, a deusa virgem, irritando profundamente Afrodite que se sentia desprezada. Afrodite querendo se vingar, faz com que Fedra se apaixone pelo enteado, o resultado da sua declaração ao rapaz é repulsão.
Temendo que ele a denunciasse a Teseu, simulou uma tentativa de violação por parte do enteado. Ensandecido de raiva, Teseu apelou para seu pai Posídon, pois não queria matar o próprio filho.

Enquanto Hipólito passeando com sua carruagem a beira-mar em Trezena, Posídon enviou um monstro que assustando os cavalos, fez príncipe cair e prender os pés nas rédeas ocasionado na sua morte. Com profundo remorso, Fedra se matou.
Em outra variação do mito, após ser repudiada, Fedra se enforca mas deixa para trás uma carta dizendo que Hipólito a tentara seduzir. A verdade foi contada a Teseu pela deusa Ártemis, que teve pelo menos a oportunidade de conseguir o perdão do filho que estava agonizando em seus braços.




As Aventuras de Teseu na Maturidade e seu Fim

Pirítoo, um héroi lápita, filho de Zeus e Dia, quis por a prova a fama do héroi, mas ao vê-lo ficou impressionado com o porte majestoso e desistiu da luta declarando ser seu escravo, Teseu, lhe concedeu amizade eterna.
Pirítoo iria se casar com Hipodamia, Teseu obviamente foi convidado, entre os parentes convidados da noiva estavam os Centauros. Estes, bebendo demais começaram a agarrar as moças da festa, a partir disso houve uma luta, e com a ajuda de Teseu, os lápidas venceram, porém Hipodamia pereceu.
“Livre” Pirítoo participou de aventuras com o heroi, entre elas a grande caçada do javali de Cálidon, que teve sua vida salva por Teseu.
Ambos por terem descendência divina resolvem apenas se casar com filhas de Zeus, as escolhidas foram Helena e Perséfone. Começaram raptando Helena, sendo perseguidos pelos irmãos da garota, Castor e Pólux, que conseguiram se desvencilhar de ambos em Tegéia. Em segurança os dois herois tiraram a sorte para ver quem ficaria com a princesa espartana, comprometendo-se o vencedor a ajudar o outro no rapto de Perséfone. Teseu venceu, mas como Helena ainda era criança, secretamente a levou para Afdina, demo da Ática, para colocar a garota sobre a proteção da sua mãe, Etra. Depois disso foram para o Hades para raptar Perséfone.



Durante a ausência de Teseu, Castor e Pólux, à frente de um grande exército, invadiram a Ática par resgatar a irmã e contou com a ajuda de Academo que lhes revelou o lugar onde Teseu a retinha cativa. Os irmãos invadiram Afdina, resgataram a irmã e levaram Etra como escrava.
No Hades, Teseu e Pirítoo foram convidados a participar de um banquete, ambos aceitaram e assim, de acordo com as leis estavam presos ao Inferno agora. Héracles, quando desceu para o Hades tentou libertá-los, mas os deuses só permitiram que Teseu fosse retirado, Pirítoo ficou para trás para sempre na cadeira do Esquecimento.
De volta a Atenas, o heroi a encontrou dilacerada por lutas internas e facções políticas. Triste e sem vigor para lutar, desiste de tentar reassumir o poder. Enviou os filhos secretamente para Eubéia onde reinava Elefenor. Retirou-se para a ilha de Ciros, Licomedes, o rei do local, com medo de que Teseu fosse reivindicar a posse da ilha, levou o ao cume de um penhasco, à beira-mar e pelas costas o jogou no abismo. E esta foi a vida do heroi Teseu.

Fontes: BRANDÃO, J. S. – Mitologia Grega – Volume III. 5ª ed. Petrópolis, Vozes, 1993.
Texto “O mito de Teseu” de Paulo Costa de Souza
A Jornada do Heroi
Mundo Comum: Trezena
Chamado à Aventura e Recusa do Chamado: Teseu foi um heroi que agiu por vontade própria, por isso não houve recusa do chamado que foi o encontro com seu pai Egeu.
Encontro com o Mentor: Os mentores de Teseu foram Piteu e Cônidas, que o criaram até a juventude.
Travessia do primeiro limiar: Bandidos encontrados no caminho para Atenas.
Testes, Aliados, e Inimigos: Encontro com o pai, Médeia, os Palantidas
Aproximação da Caverna Oculta: Guerra entre Atenas e Creta
Provação Suprema: O Minotauro no labirinto
Recompensa: Liberdade para si e seu povo, Ariadne
Caminho de Volta: Voltando de Creta para Atenas e a morte do pai Egeu
Retorno com o Elixir: Atenas e todas as melhorias
Autor: Vitor Hugo Inácio Rodrigues








































segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Xangô: O Orixá


Por Pai Alexandre Falasco
   Xangô é o deus do trovão, sua majestade se confunde com sua importância para os filhos-de-santo, tão verdadeiro este fato que em alguns lugares no Brasil, como em Pernambuco, por exemplo, diversos cultos atendem pelo nome de Xangô.
   Na Bahia, forte reduto da prática do Candomblé, os terreiros mais importantes e antigos têm Xangô como Orixá principal de suas casas, a Casa Branca do Engenho Velho, a primeira casa de Candomblé da Bahia provavelmente teria sido fundada pela Ia Nassô trazida de Oyó como escrava logo após seu reino ser dizimado pelos árabes.
   Da Casa Branca surgiram os terreiros Ilé Yaomi Axé Yamassê (chamado também de Terreiro do Cantuá ou Gantois, bastante conhecido através de Mãe Menininha) e também o Ilê Axé Opô Afonjá de Mãe Aninha e Mãe Senhora, hoje dirigido por Mãe Stella de Oxóssi, Todos colocando o Orixá sincretizado com São Jerônimo em grande destaque dentro de sua liturgia.
   Xangô é o fogo, o raio, o trovão, seu axé está nas pedreiras, nas rochas que não se consegue quebrar a não ser pelo seu próprio raio, tão duras e fortes que são a exemplo do próprio Orixá. Sua área de maior atuação é a justiça, assim como seu símbolo principal é o “Oxé”, um machado de duas lâminas, pois não se faz justiça sem que se atente para os dois lados de cada situação. Além disso, Xangô representa a liderança, a autoridade, e sem dúvida o erotismo no seu melhor sentido e tradução. Foi casado com três divindades: Obá, Oxum e Oiá, esta última guerreira teria reinado ao seu lado até o fim de sua jornada antes de se tornar Orixá.
   Xangô também aparece sincretizado com São João Batista e São Pedro, ambos comemorados em Junho e por isso, são junho e setembro os meses onde se vê maior devoção ao Orixá
Veja o original aqui

domingo, 29 de janeiro de 2012

O Mito de Teseu — Parte I: Do Nascimento ao Exilio

 

by Mitocondria
Teseu, cujo o nome significa “o homem forte por excelência”, é um heroi grego que combateu e livrou a Grécia de vários monstros, sendo o mais famoso dentre eles o Minotauro.
Teseu era filho de Etra e tinha dupla paternidade, era filho do rei de Atenas, Egeu, e de Poseidon/Posídon.
Nessa primeira parte veremos sobre o nascimento do herói, suas primeiras aventuras e seu exílio.
O Nascimento do Herói
De acordo com o mito, Egeu não conseguia ter filhos, mesmo tendo tido várias esposas, perante tal situação, o rei foi consultar o deus Apolo em Delfos, a resposta que obteve foi a proibição de “não desatar a boca do odre antes de chegar a Atenas.” Sem saber o significado da sentença, decidiu ir a Trezena para se consultar o sábio Piteu.
No caminho o rei aportou em Corinto, no momento em que Medéia já estava decidida a matar Creonte, a princesa Créusa e seus próprios filhos, só que sem um lugar para fugir. Com a chegada de Egeu, ela viu a oportunidade para executar a sua vontade, conseguiu dele a promessa de asilo e em troca, ela faria com que ele tivesse filhos usando as suas magias.
De Corinto Egeu parte direto para Trezena. Egeu fala sobre a recomendação da Pítia (oráculo) a Piteu, que consegue compreender a resposta oracular, mas não revela a Egeu. Segundo alguns intérpretes era de que ele não deveria se deitar com nenhuma mulher antes de chegar a Atenas pois teria um filho.
Piteu embebeda o hóspede e coloca sua filha, Etra, para se deitar com Egeu.
Na mesma noite, em que passara ao lado do rei de Atenas, a princesa teve um sonho, nele apareceu Atená, ordenando-a que fosse a uma ilha próxima para oferecer a ela um sacrifício. No caminho, o deus Posídon apareceu, e fez dela sua mulher. Foi desse encontro que Etra ficou grávida de Teseu, que Egeu pensou ser dele o filho.
Egeu ficou em Trezena até que seu filho nascesse e em seguida voltou para Atenas com receio dos Palântidas, seus 50 sobrinhos, filhos do seu irmão Palas. Resolveu deixar o filho sob os cuidados do avô Piteu e o professor Cônidas. Antes de ir, Egeu esconde sob um enorme rochedo sua espada e sandálias, para que quando Teseu fosse forte o suficiente, levantasse a pedra, pegasse os iténs escondidos e rumasse para Atenas portando os objetos para encontrar com o seu pai.
Ao atingir a adolescência, Teseu oferece parte de seu cabelo a Apolo, de acordo com o costume, e Etra fala sobre seu nascimento e onde se encontra a rocha para que ele possa pegar as sandálias (que tem a função de “armar” os pés, protegê-los, símbolo da alma) e a espada (a arma do herói, combatente espiritual).
Teseu foi aconselhado pela mãe e o avô a ir por mar, Teseu escolheu ir por terra, ao longo de Istmo de Coninto, caminho infestado de bandidos.

As Aventuras até Atenas
O primeiro grande malfeitor que Teseu encontrou no caminho foi Perifetes (o que fala muito), filho de Hefesto e Anticléia. Ele era coxo e dependendo da versão apoiava-se em uma muleta ou na clava de bronze que usava no ataque contra os transeuntes que se dirigiam a Epidauro. Teseu o mata e pega a clava para si, fazendo dela sua arma principal na eliminação de vários inimigos, mas não sem substituir a espada dada pelo pai.

O segundo rufião foi Sínis, um gigante que com a sua força vergava o tronco de um pinheiro até o solo e fazia com que aqueles que caíssem em suas mãos, manter o tronco em tal estado, não tendo força para conter a retração da árvore eram lançados e caiam sobre rochas se despedaçando. Às vezes Sínis vergava duas árvores e amarrava a cabeça do condenado a copa de uma e os pés a outra, fazendo a vítima dilacerar-se.

Na primeira prova Teseu vergou o pinheiro com tanta força que quebrou a árvore, em seguida subjugou Sínis e o submeteu à segunda prova, dilacerando-o. Um breve adendo que Sínis tinha uma filha chamada Perigune, que se escondera na plantação de aspargo, enquanto Teseu e seu pai lutavam. Uniu-se depois ao heroi e foi mãe de Melanipo, que foi pai de Ioxo, cujo os descendentes tinham devoção particular pelos aspargos.

O terceiro desafio foi a monstruosa Porca de Crômion, filha de Tifão e Équidna que se chamava Féia, nome de uma velha bruxa que a criou e a alimentou. Teseu a eliminou com um golpe de espada.
Chegando às Rochas Cirônicas, Teseu enfrentou o assassino Cirão, filho de Pélops ou Posídon, de acordo com a fonte. Ele ficava à beira-mar, nas terras de Mégara, nos denominados Rochedos Cirônicos, onde passava a estrada. O seu modo de agir com os viajantes era obrigá-los a lavarem seus pés e em seguida os jogavam no mar para que uma monstruosa tartaruga os devorassem. Teseu não aceitou lavar os pés de Cirão, o combateu e saiu vitorioso, jogando por fim o cadáver ao mar para a tartaruga-gigante devorar.
O quinto a ser enfrentado foi Damastes ou Polipêmon, apelidado de Procrusto (aquele que estica). Para matar suas vítimas ele usava de duas camas, uma pequena e outra grande, de acordo com o tamanho da vítima ele colocava em uma cama onde ou a pessoa tinha as pernas cortadas ou era esticado. Os dois se enfrentaram e Teseu saiu vitorioso.

O sexto e último desafiante de Teseu na viajem foi Cércion, o gigante de Elêusis, que obrigava os transeuntes a o enfrentarem em uma luta, como era muito forte matava a todos, até que enfrentou Teseu que o ergueu e lançando-o violentamente no solo o esmagou.
Terminado a jornada e derrotado os monstros, o heroi chegou aos arredores de Atenas, mas antes de ir procurar o pai foi se purificar no rio Cefiso (pai de Narciso), lá foi purificado pelas Fitálidas, descendentes do heroi Fítalo. Após o banho foi vestido com trajes femininos, passando na frente de um templo em construção, foi motivo de ridicularização pelos pedreiros, irritado, jogou uma carro de bois contra os pedreiros. Depois disso entrou, sem se identificar, em seu futuro reino.

O Encontro com Egeu e os Palântidas
Mesmo não tendo se identificado, já era renomado por ser matador de monstros, coisa que preocupou o rei devido aos dias confusos e difíceis de Atenas. Médeia casou-se com Egeu e se apossara do comando do reino.
Médeia descobriu quem era o heroi e em vez de revelar a Egeu, aumentou seu medo e o convenceu a matá-lo em um banquete em honra ao heroi colocando veneno em sua taça, plano que teve consentimento do rei.
No banquete, querendo se revelar ao pai, Teseu desembainhou a espada para cortar a carne, Egeu reconheceu de imediato o filho, derrubou a taça, o abraçou e ali mesmo proclamou-o seu sucessor.

Médeia mas uma vez foi exilada, voltando para Cólquida.
Outra variante do mito diz que Teseu foi reconhecido de modo diferente. Médeia mandou que ele capturasse o famoso Touro de Creta (que foi o sétimo trabalho de Héracles/Hercules). Tendo derrotado o touro, trouxe-o para ser sacrificado a Apolo, ao puxar a espada para cortar os pelos da fronte do animal, Egeu o reconheceu.
Tão logo foi reconhecido pelo pai e desfrutando do poder, adquiriu conhecimento sobre as conspirações tramadas pelos primos, de imediato se apresentou para a luta.
Os Palântidas, raivosos de não poderem mais suceder Egeu, resolveram eliminar Teseu. Diviram suas forças em dois grupos, um atacaria a cidade abertamente pela frente e o outro viria surpreender por trás. Porém o plano foi revelado pelo arauto Leos. Teseu mudou sua tática, massacrou o contigente inimigo emboscado e investiu contra os demais que se dispersaram e foram mortos.
Para expiar o sangue derramado de seus primos, Teseu se exilou um ano em Trezena.
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Fiquem de olho que logo sairá o segundo e ultimo post onde veremos a parte mais famosa da lenda de Teseu, quando ele enfrenta o Minotauro e suas ultimas aventuras
Autor: Vitor Hugo Inácio Rodrigues
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